Entrevista com Mateus Gonçalves, aluno egresso de Engenharia Urbana e atualmente mestrando em Engenharia Ambiental

Setembro 29, 2023

Iniciado em 2018, o curso de graduação em Engenharia Urbana da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), o primeiro país, formou sua primeira turma em 2023.  No percurso, nossos alunos enfrentaram desafios inerentes à própria construção do curso, da adaptação à pandemia e a insegurança em relação ao mercado de trabalho. Com muito esforço, dedicação e resiliência desses alunos, hoje temos os primeiros profissionais egressos do nosso curso e esses começam a contribuir para o presente e o futuro das nossas cidades.

Mateus Gonçalves, engenheiro urbano e mestrando em Engenharia Ambiental, nos conta um pouco sobre sua experiência como graduando e conhecer mais da sua jornada durante de depois da conclusão do nosso curso.

Matheus Gonçalves da Silva
Mateus Gonçalves da Silva, egresso do Curso de Engenharia Urbana da Universidade Federal de Ouro Preto.

 

1. Como você decidiu ingressar no curso de Engenharia Urbana e o que o motivou a seguir essa carreira?

Tudo começou enquanto eu trabalhava em uma grande empresa, devido à minha formação inicial em Engenharia de Produção. Diante das minhas expectativas e da forma como gosto de trabalhar, a rotina de trabalho me deixou inquieto com aquela realidade e, principalmente, com a monotonia dos projetos. Faltavam pessoas, laboratórios de ideias, oportunidades de criação e outros elementos que eu gostaria de ter buscado. Até então eu pensava que deveria ter cursado Arquitetura e Urbanismo ou Design Gráfico.

Uma amiga estava se formando em Arquitetura e Urbanismo na UFOP, quando me contou sobre o curso de Urbana. Ela, que hoje está concluindo doutorado com pesquisas em planejamento urbano, já conhecia mais sobre o ambiente urbano e suas complexidades e, como era inevitável, era apaixonada por desvendar esse universo. Ao ver as notícias sobre a criação do curso, percebi a oportunidade de iniciar uma nova etapa, onde eu poderia expandir meus conhecimentos em novas áreas, conhecer muito mais sobre um novo universo, o das cidades, e por aí vai. Além de conseguir trabalhar as ferramentas que buscava incorporar ao meu trabalho.

A urgência de olhar para o meio urbano vinha sendo o motivo das minhas leituras, onde encontrava diversas situações que aguçavam minha criatividade e a vontade de fazer parte de um universo que lidasse com esses problemas, não apenas com técnicas, mas também com a história, as vivências e tudo o que envolve o ambiente urbano. E, com certeza, foi isso que encontrei do início ao final do curso de Engenharia Urbana.

Os colegas de turma, do curso e da UFOP foram essenciais para a formação de grupos de trabalho e para avançarmos em cada etapa. O corpo docente e técnico, bastante entusiasmado, também contribuiu significativamente para que continuássemos. A inovação, uma característica comum em um curso novo, permitiu que todos participassem e contribuíssem para a formulação do curso. O fato de trabalharmos sempre considerando diversas áreas nos estimulou a realizar pesquisas, introduzir novidades, contextualizar e integrar, além de manter um foco constante no campo profissional.

2. Você teve a oportunidade de participar de estágios, projetos de pesquisa e de extensão durante o curso? Se sim, considera que foi/foram importante(s) para sua formação?

Logo no primeiro período, eu e os demais alunos da primeira turma, tivemos a oportunidade de começar os trabalhos inicialmente de forma voluntária e, com o avançar do curso, tornamos membros do grupo Fórum Permanente de Sustentabilidade das Cidades Históricas. Concomitantemente, nossos professores iam chegando e, com eles, muitas novidades. Novos grupos de trabalho, pesquisas diversas, colaborações com outras áreas e cursos, enfim, uma diversidade enorme de oportunidades.

A primeira turma enfrentou diversos desafios relacionados à instalação e formulação do curso. Participei, juntamente com alguns colegas, da primeira chapa do centro acadêmico, o que foi um dos passos importantes para começarmos e conquistarmos nosso espaço. Logo na primeira Mostra de Profissões, todos também estavam envolvidos. Acredito que ter abraçado a ideia do curso foi fundamental para todo o processo. Participar de conversas, palestras e aulas inaugurais, com professores renomados, nos impulsionou a continuar. Isso foi confirmado quando recebemos os demais professores.

No meu caso, tive a oportunidade de participar de diversas atividades de extensão, abordando temas como sustentabilidade em cidades históricas, mobilidade e acessibilidade urbana, desenho de vias e gestão de resíduos sólidos. Também participei da comunicação institucional da Escola de Minas. Outra oportunidade única foi a participação em Iniciação Científica, sob a orientação da professora Bárbara Matos (DEURB) e Daniela Lessa (DECIV), onde desenvolvemos pesquisas sobre planejamento urbano, mobilidade e acessibilidade urbana. À medida que surgiam novas oportunidades, percebia uma chance de contribuir mutuamente, o que me levou a participar de diversos projetos além da Urbana. Por exemplo, participei de uma competição de Bioeconomia oferecida pela Diretoria de Relações Internacionais (DRI), com alunos da UFOP de diversos cursos e de uma universidade holandesa. Isso foi uma ótima oportunidade para conhecer uma nova dinâmica, trabalhar com projetos do exterior e ainda praticar o inglês.

Reforço uma das grandes oportunidades que a universidade oferece, que é a de conhecer outros universos. O que me levou a cursar disciplinas extras no departamento de Turismo e Serviço Social da UFOP e uma disciplina isolada no departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFMG. A Fundação Gorceix também oferece diversas oportunidades, onde participei de cursos extracurriculares importantes, além de conseguir auxílio para locomoção durante a apresentação de trabalhos.

Como consequência da atuação dos grupos os quais pertencia, nesses trabalhos, principalmente durante a iniciação científica, tivemos a oportunidade de levar os trabalhos para serem apresentados em Fortaleza, Brasília e Rio de Janeiro. Foram momentos que proporcionaram muitas trocas, conhecimento sobre outras realidades e trabalhos, e, é claro, a oportunidade de conhecer outras cidades.

Todas as oportunidades oferecidas pela universidade são essenciais para nossa formação. É preciso experimentar as diversas áreas da Urbana para encontrar aquelas com as quais temos maior afinidade. Mesmo depois de conhecer a formação multidisciplinar, nunca abandonamos outras áreas. Um dos pontos positivos do curso é termos um corpo docente receptivo, preparado e animado com as diversas ideias, o que facilita a procura imediata por cada um deles. Aproveitem a abertura de todos os professores para novas oportunidades. Fiquem sempre atentos ao instagram e site do curso, de outros cursos, da UFOP. E, constantemente, em diálogo com as pessoas.

Matheus Gonçalves em eventos
Mateus participando em diversos eventos durante a graduação.

Matheus Gonçalves em evento
Mateus participando em diversos eventos durante a graduação.

 

3.  Como você escolheu sua área de especialização ou foco dentro da Engenharia Urbana?

Inicialmente, minha empatia pela mobilidade urbana (que, até então, para mim, não tinha nome) começou quando eu visitava cidades e centros urbanos e percebia questões relacionadas ao deslocamento das pessoas, aos espaços ocupados, aos acessos, ao cuidado ou à falta dele, à segurança, aos hábitos, aos modos de transporte e ao espaço. Eu ficava com tudo isso em mente, observando como tudo acontecia e me deixava imerso naqueles desenhos urbanos que estava conhecendo. Mais adiante, tudo começou a tomar forma com as aulas da professora Bárbara Abreu, cuja apresentação em sala de aula era encantadora. Na época, eu estava em um intercâmbio e, visualmente, essa era uma das questões mais fáceis de ver e comparar com nossa realidade. Assim, enviei um e-mail pedindo para trabalhar com ela e com a Ana Luíza (nossa primeira engenheira urbana), e foi ali que participei de grandes trabalhos. Formamos uma equipe animada com o tema e começamos a desenvolver pesquisas, atuar em ações e mergulhar naquele universo. Em seguida, com a chegada do Victor Hugo, conheci outros temas relacionados aos transportes e fui confirmando que essa seria minha área principal. Também tive a oportunidade de trabalhar com a Daniela Lessa, do departamento de Engenharia Civil, que trouxe várias questões interessantes sobre o ambiente urbano e as redes de transporte, o que confirmou o que já estava claro para mim, que era a mobilidade.

O mais interessante é poder relacionar esse tema com todas as outras grandes áreas, o que torna o curso totalmente interligado, coerente e faz todo sentido o tempo todo. Foi quando todas essas questões se encaixaram para mim, e a união dessas áreas contribuiriam para as cidades constantemente em desenvolvimento. Sempre abordando ideais como uma cidade sustentável, acessível, equitativa, entre outras características importantes.

Atualmente, sou aluno da pós-graduação em Engenharia Ambiental da UFOP, onde realizo pesquisas voltadas para a mobilidade urbana e o meio ambiente. Todas as experiências anteriores contribuíram não apenas para minha aprovação no programa, mas também para minha pesquisa e trabalho na área de transportes dentro do programa. Tenho o compromisso de aplicar os conhecimentos adquiridos para encontrar soluções inovadoras e sustentáveis para os desafios urbanos e ambientais que as cidades enfrentam, aplicando os conhecimentos adquiridos, principalmente, na Engenharia Urbana.

4. Quais habilidades e conhecimentos adquiridos durante a graduação têm sido mais úteis agora?

Analisar todas essas questões, levando em consideração toda a complexidade envolvida, é um dos maiores benefícios, pois nos permite enxergar tudo de maneira altamente interdisciplinar. Isso nos abre portas para discutir diversos projetos. A habilidade em pesquisa, o domínio de softwares, as práticas e a técnica, sem dúvida, são pontos muito positivos ao escolher a Engenharia Urbana, a Escola de Minas e a UFOP.

Atualmente, sou aluno do mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental (PROAMB) da UFOP, onde interajo com diversos colegas pesquisadores que atuam em diversas áreas. As conversas e pesquisas ocorrem em grupos compostos por profissionais de diferentes backgrounds, como engenheiros (ambientais, urbanos, químicos, de produção, civis, florestais, entre outros), biólogos, advogados, farmacêuticos e outros. Isso me permite aplicar os conceitos aprendidos na Engenharia Urbana para contribuir com meus colegas e também adquirir novos conhecimentos para minha própria formação.

Minha habilidade de pesquisa, que foi aprimorada durante meu curso de Engenharia Urbana, tem sido extremamente valiosa para os projetos que estou envolvido atualmente. Além disso, minha capacidade de contribuir com ideias inovadoras tem sido bem recebida, já que posso compartilhar ideias que desenvolvi ao longo das disciplinas e projetos do curso de Engenharia Urbana.

Além de uma base sólida de conhecimento técnico, a graduação expandiu meu pensamento crítico, permitindo-me abordar desafios interdisciplinares de forma mais abrangente. O curso de Urbana nos faz transcender a nossa própria realidade e vivência, levando-nos a novos espaços e realidades.

5. Quais conselhos você daria a estudantes que estão considerando ingressar no curso de Engenharia Urbana?

A Engenharia Urbana é um curso bastante completo e dinâmico, com diversas interfaces que se unem em prol do desenvolvimento adequado de nossas cidades. É uma excelente oportunidade para conhecer um curso que deriva de uma problemática muito atual e que será sempre necessário discutir. A inquietação daqueles que fundaram o curso se reflete nas discussões durante a graduação, o que leva todos a estabelecer críticas e buscar diversos conhecimentos constantemente. A abertura que temos com o corpo docente e técnico nos faz sentir muito à vontade, seja para expor nossas ideias ou para lidar com nossas dificuldades. Sinto que é um curso consolidado, mas em constante evolução, onde todos se esforçam para mantê-lo como uma caixa de ferramentas e habilidades necessárias para as gerações futuras e para o desenvolvimento dos ambientes urbanos.

Além disso, é importante lembrar que é preciso viver a vida além da UFOP com responsabilidade. Assim, essas vivências somam ao nosso dia-a-dia, contribuindo para o nosso bem estar. As repúblicas promovem entretenimento e acolhimento, as festas são incríveis, mas é fundamental abraçar tudo com muito discernimento. A cidade de Ouro Preto é repleta de oportunidades únicas, um verdadeiro museu a céu aberto, onde podemos nos divertir muito e aprender sobre a História. Portanto, não deixem de cuidar com carinho de uma das melhores fases de nossas vidas.

É importante ressaltar que o curso é totalmente gratuito e de qualidade. A universidade é pública e as atividades que desenvolvemos possui caráter extensionista, ou seja, que atribui uma relação universidade-comunidade. A UFOP possui políticas de amparo social, assim como a Fundação Gorceix, sendo importante buscar informações acerca dessa perspectiva a fim de receber o apoio necessário para continuidade durante a temporada na UFOP. Formulem uma boa rede de apoio, financeiro e psicológico, e cultivem um bom círculo de pessoas em volta.

A forma como o curso aborda o programa pedagógico do curso é interessante, pois temos disciplinas que nos contam sobre o contexto urbano desde o primeiro período. Além de diversos projetos e atividades oferecidos nas disciplinas ou extras, que nos permitem muita prática e deixa os dias bem dinâmicos. Experimentem, contribuam e aprendam bastante, pois é uma oportunidade única.

6. Quais são suas metas e aspirações profissionais futuras na área de Engenharia Urbana?

Não podemos interromper a jornada e jamais parar. O curso possui uma base consolidada e um caminho positivo a seguir. É responsabilidade de todos os envolvidos perpetuar os conceitos abordados na Engenharia Urbana e promover mudanças significativas. Espero ansiosamente por momentos em que as pessoas coloquem os espaços urbanos e as pessoas no centro das discussões. Devemos estabelecer objetivos concretos que visem tornar nossas cidades mais vibrantes, diversas, com ações voltadas para a sustentabilidade, saúde, preservação da memória e inovação.

Minhas metas e aspirações profissionais futuras incluem continuar contribuindo para o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis, acessíveis e inclusivas. Desejo trabalhar em projetos que promovam a melhoria da qualidade de vida nas áreas urbanas, focando em soluções inovadoras para os desafios que as cidades enfrentam atualmente, como mobilidade, habitação e meio ambiente. Além disso, pretendo continuar aprendendo e colaborando com profissionais e especialistas na área, buscando sempre aprimorar meus conhecimentos e habilidades para fazer a diferença no planejamento e gestão urbana. Espero, portanto, que todos se motivem e animem com o curso e possamos ampliar a rede de engenheiros urbanistas por aí.