Conheça a trajetória de Lara Peixoto, estudante do curso de Engenharia Urbana da Escola de Minas e atleta de Taekwondo.

Novembro 9, 2023

Nesta entrevista, conhecemos a trajetória da Lara, que se apaixonou pelo Taekwondo aos 10 anos de idade. Ela nos conta como superou desafios desde a infância, quando enfrentou o sobrepeso, e experimentou diferentes atividades esportivas, como ballet e judô, até descobrir e se encontrar no Taekwondo, que conquistou seu coração e passou a ser parte fundamental de seu cotidiano. 

Seu envolvimento no esporte foi impulsionado pelo apoio de sua mãe e de sua treinadora, que viu o potencial dela antes mesmo de ela acreditar. Aos poucos, ela se envolveu mais, separou-se da turma das crianças e começou a vislumbrar a possibilidade de competir profissionalmente.

Sua rotina diária é um exemplo de disciplina e organização, equilibrando os estudos no curso de Engenharia Urbana com os treinos e as viagens para competições. Lara treina todos os dias, por pelo menos duas horas, e ainda dá aulas de Taekwondo sexta à tarde em um projeto de extensão da UFOP.

Lara Peixoto, estudante de Engenharia Urbana e medalhista em Taekwondo
Lara Peixoto, estudante de Engenharia Urbana e medalhista em Taekwondo

Segundo ela, o momento mais memorável de sua carreira até agora foi sua participação no Pan Universitário de 2022, onde subiu no pódio ao lado de potências do Taekwondo e representou com orgulho o Brasil, nossa universidade e a Escola de Minas. 

Entre as competições que ela planeja participar futuramente, destacam-se o Open Internacional em Lima, no Peru, e a Copa do Brasil.

Confira a entrevista abaixo, em que ela deixa uma mensagem inspiradora para outros estudantes que desejam conciliar esportes e formação acadêmica: organização, disciplina e acreditar que é possível alcançar seus objetivos.

Como e quando você se envolveu com o Taekwondo? O que te motivou a começar a competir profissionalmente?

Quando eu era pequena, sempre gostei de fazer muitas atividades, mas eu tinha sobrepeso para a idade. Minha mãe foi quem mais me incentivava. Eu fiz 5 anos de ballet e desanimei, fiz um pouquinho de judô também e não gostei. Em 2011, aos 10 anos de idade, incentivada por uma colega, eu entrei para o taekwondo. No princípio eu era mais brincalhona e avacalhada, mas com o tempo eu fui me envolvendo e gostando mais. Minha treinadora foi muito importante nesse sentido porque ela me incentivou e viu um potencial em mim que eu mesmo não enxergava. Foi aí que ela me incentivou a sair do grupo do infantil para treinar mais, a ajudar até a dar aula e a ver esse lado possível da competição. Então, eu acredito que por volta dos anos de 2014 e 2015, que foi a virada de chave, que fez a diferença para eu ter vontade de competir. O alto rendimento foi a partir do momento que nossa equipe começou a investir nisso e vendo os caminhos para uma profissionalização. Foi uma coisa que eu gostei e vi que valia a pena tentar. Então, foi a partir de 2017/2018 que a gente começou a evoluir mais nesse mundo.

Como é a sua rotina de treinamento diário? Como você equilibra os estudos com os treinos e compromissos como atleta, como as viagens para competições?

Isso requer uma organização enorme. A disciplina que o próprio esporte proporciona me ajuda muito nesse sentido, já que tudo é cronometrado. Além disso, o semestre no curso de Engenharia Urbana varia entre período matutino e vespertino, o que exige que eu conte com a colaboração e compreensão de quem me treina para ser flexível com horários, assim como com a universidade quando preciso ir para as competições. Graças a Deus, ambos os lados me entendem e têm dado certo nesse aspecto. Os próprios professores são super compreensivos, assim como os meus colegas, que mudam as datas das apresentações de grupos de trabalho para que eu possa estar presente. Isso é muito legal, pois o pessoal me incentiva bastante. Quanto à questão da rotina, por exemplo, neste período as aulas acontecem pela manhã. Então, nos dias de semana eu treino por duas horas na parte da tarde e aos sábados vou para Belo Horizonte ou treino aqui, geralmente um treino mais longo, que acontece pela manhã e dura cerca de umas 3 horas. À noite, dou aula de taekwondo também para ajudar um pouco na renda para poder competir e também porque gosto. Então é bem apertado conciliar tudo.

Quais foram as principais e as últimas competições que você participou representando a Escola de Minas e a UFOP? Quais foram os prêmios mais importantes conquistados?

Sem dúvida, foi o Pan-Americano, que ocorreu no México em 2022. Logo após nosso retorno da pandemia, teve a seletiva. Durante esse período, eu fiquei treinando em casa, aguardando essa oportunidade. Ela surgiu de forma inesperada. Assim que a seletiva para a seleção brasileira foi anunciada, eu comecei a correr atrás da Confederação Universitária de Minas e, aqui na UFOP, fui atrás das pessoas envolvidas nesse processo, e elas foram extremamente proativas, conseguindo me inscrever a tempo na seletiva. Vencemos a seletiva em março, garantindo minha vaga para participar do Pan em outubro. A partir desse momento, começamos a investir mais na minha preparação. Graças a Deus, deu muito certo, pois conquistei a medalha de prata na categoria individual e, na modalidade chamada TK3, que é disputada em equipes de três pessoas, conseguimos a medalha de ouro. Portanto, sem dúvida, esse foi o principal, juntamente com os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) este ano de 2023, que valia seletiva para o mundial. Infelizmente, perdi na semifinal, mas ainda assim conquistei a medalha de bronze. O nível de competição estava muito alto, pois muitos competidores dedicam suas vidas quase que inteiramente ao esporte, mais que à universidade.

Como a Escola de Minas e a Fundação Gorceix tem apoiado sua carreira profissional? E como isso impacta seu desempenho?

 

Quando conquistei a vaga para o México, o diretor atual da Escola de Minas, José Alberto Naves Cocota Jr., me procurou e me perguntou o que eu precisava para poder participar. Expliquei a ele que a Confederação cobriria as despesas, mas ainda não haviam confirmado. O diretor então se prontificou a encontrar um jeito de pagar a passagem através da Fundação Gorceix, caso fosse necessário. Mas acabei não precisando, pois a Confederação bancou tudo. Foi nesse momento que ele me ofereceu uma bolsa mensal para me auxiliar com os custos de treinamento. Apresentei a ele os gastos com nutricionista, treino técnico e físico, e fisioterapia, e calculamos uma média aproximada do valor. Essa bolsa atualmente me ajuda muito a conciliar minhas atividades acadêmicas e esportivas. Não preciso abrir mão de outras coisas, e, às vezes, o dinheiro que eu investiria pessoalmente em treinamento é utilizado para participar de mais competições, incluindo as universitárias. A UFOP, quando não se trata de um grupo muito grande, enfrenta dificuldades em fornecer auxílio. Eles oferecem auxílio evento, mas é depois do evento. Nos eventos mais recentes que participei, tive que custear as despesas, com exceção dos que os meninos do futsal participaram, evento em que compartilhamos o mesmo transporte. Despesas com alimentação e hospedagem geralmente ficam por minha conta, mesmo sendo universitária. Então, a Escola de Minas e a Fundação Gorceix desempenham um papel fundamental nesse sentido.

 

Quais são as competições que você pretende participar futuramente? Já tem algumas em mente? E como está a expectativa?

 

Todo ano fazemos um calendário. Esse ano, agora, no dia 16 de novembro, estou viajando para Lima, no Peru, para disputar o Open Internacional. É importante para mim porque não pude participar de outros dois campeonatos internacionais devido a uma lesão e tive que mudar de planos. Ficou em cima da hora, e como o custo desses eventos internacionais é em dólar, tive que fazer uma rifa para auxiliar nessas despesas. Depois de Lima vem a Copa do Brasil, no dia 17 de dezembro. Lá eu preciso também de um pódio para poder conseguir manter a bolsa atleta federal, que ano passado eu consegui por ter ficado no top 3 do Brasil. Só que o esporte é muito cruel. Se você não consegue o resultado de novo, no ano seguinte você perde a bolsa. Isso aumenta bastante a pressão sobre nós atletas.

 

Quais dicas você daria para estudantes que, assim como você, desejam conciliar a universidade com o esporte?

 

Eu acho que tudo parte da organização e da disciplina. Eu acho que a gente consegue dar conta se a gente se organiza. Lógico que às vezes a gente não pode abraçar o mundo. Nesse período, eu sabia que teria competições alvo em novembro e dezembro. Então, eu tive que deixar de cursar algumas disciplinas porque eu sabia que não ia conseguir ficar aqui o dia inteiro e treinar o suficiente. Então, eu vou me organizando. Não adianta querer fazer tudo e fazer tudo mais ou menos. Também, se você acredita e quer realmente, não deve desistir, porque tudo é muito flexível. Acho que temos uma pressão da sociedade muito grande, um padrão de "eu vou entrar na faculdade com 18, formar com 23", mas tá tudo bem se não for, e se você organiza, dá pra você fazer tudo muito bem também.

 

Por último, poderia compartilhar conosco algum momento memorável na carreira?

 

Sem dúvidas, foi o Pan Universitário, porque foi a primeira viagem que eu fiz para fora do país, e o esporte me possibilitou isso. É emocionante você viajar representando o seu país e saber que é possível subir no pódio ao lado de países como os Estados Unidos e o México, que são potências no Taekwondo e tem alto investimento no esporte. Acho que o brasileiro tem muito disso, a gente sempre tem que enfrentar mais barreiras que o resto. Mas a gente também é muito orgulhoso do nosso país. Então, acho que o momento mais marcante para mim foi esse, quando eu subi no pódio representando o Brasil e ficamos em primeiro lugar na frente desse pessoal todo.